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Essa duplicidade persegue o documentário “The Pervert’s Guide to Cinema”, dirigido pela britânica Sophie Fiennes, feito em 2006, que dá a Zizek espaço para abordar, emular, desmontar e remontar cenas, personagens e situações do cinema clássico e contemporâneo ao longo de duas horas e meia.
Para a maioria dos espectadores, o efeito escapista oferecido pelo cinema funciona como outro modo de ver, sentir, desejar e viver situações. Não é à toa que muita gente compara filmes e sonhos ou descreve seus próprios sonhos como se fosse um filme com exibição única e exclusiva. Ou que Hollywood tenha recebido o apelido “indústria dos sonhos”.
Mas a associação do cinema com o inconsciente é de outra ordem, aponta Zizek em um dos tantos paradoxos que ele tece no documentário. “O cinema é a arte pervertida por excelência. Não te dá aquilo que deseja. Te diz como desejar.” Desse modo, Zizek adota o cinema como pedra de toque de sua tese, que se inspira nas teorias de Jacques Lacan, que enxerga na ficção a base de nossa realidade. Aqui ele usa as pílulas azul e vermelha de “Matrix” para avançar no campo teórico argumentando que, “se tirarmos da nossa realidade as ficções simbólicas que a regulam, perdemos a realidade em si mesma”.
Se tudo pode parecer obscuro demais para um simples amador de cinema, vale dizer que ao longo do documentário Zizek se dedica também a tecer saborosíssimas análises de cenas, misturando o arsenal psicanalítico ao mais explícito prazer de cinéfilo.
Diante de “Veludo Azul”, “Vertigo” e “Psicose”, as intuições propostas por Zizek escapam dos nossos lugares-comuns de críticos e espectadores, oferecendo significados insuspeitos sobre a voz, o ponto de vista, o corte e a estrutura narrativa do cinema. Em certos momentos, pode parecer uma aula séria, mas, como o professor tem aura de cientista maluco, a gente fica à vontade e dá boas risadas.
Por Letícia Bathomarco
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